sábado, 10 de julho de 2010

Profissão: Escritor


O apresentador Serginho Groisman, recentemente em seu programa, ao receber um livro de um convidado indagou:


- E além de escrever você faz o quê?

A pergunta não causou estranhamento, soou com naturalidade tanto para a plateia quanto para o entrevistado (que não se constrangeu ao dizer sua formação). No entanto foi o suficiente para afugentar o que ainda me restava de sono. Fiquei a pensar que a pergunta, apesar da aparência, não era corriqueira nem simplista. Era emblemática. Carregava uma série de preconceitos e descasos culturais históricos. Se o convidado fosse um filatelista, adestrador, exorcista, deputado, surfista, luthier, enxadrista, enófilo ou uma celebridade instantânea não haveria nenhum tipo de questionamento. Tudo por aqui é plausível, menos escrever. Num país onde quase não se lê escrever é encarado como um hobby, uma desocupação; é praticamente uma excentricidade. Lamentável que formadores de opinião também tenham essa opinião (melhor que o epíteto do programa fosse “vida conveniente na madrugada”). Escritor no Brasil não é profissão, eu sei - é qualidade.





(Publicado no jornal A TARDE, Salvador_Ba, edição nº 33.275, ano 98, de 16/05/2010)

Imagem e texto retirados do blogue:  ! Por que você faz poema?

3 comentários:

O Neto do Herculano disse...

Escrever neste país é um troço realmente complicado, o que é lamentavel.

Rockson Pessoa disse...

É mais interessante ser traficante, do que escritor. Porque o primeiro vende ilusões e o último te obriga a encontrar sua própria confabulação.
Bjkss

Gabi Pagliuca disse...

Nossa, isso é realmente verdade. Estranho, no mínimo. Eu sinto isso na pele, mas vamos lutar para conquistar nosso espaço. Beijos